quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Arte da Leitura – Registro e Revelação

A Arte da Leitura – Registro e Revelação

(Profª PaTTi Cruz - Pedagoga Especial, Esp.Arteterapia,

Consultora de Desenvolvimento Humano e Criatividade

Docente do Curso de Pós Graduação Lato Sensu de Arteterapia - Centrarte/RS, Coord. Projeto CoNéctar – Educação Essencial, Contadora de Histórias )


A Leitura é um caminho para a transformação. Lemos alguma coisa, um artigo, um texto extenso, uma poesia, um bilhete, um palavra pichada no muro, tudo nos reporta a pensar. Alguns escritos mais, outros menos, é verdade, mas o fato é que depois de lermos algo há sempre uma possibilidade de transformação. Não quero estender-me à transformação profunda, alicerçada em reflexões divagantes e que movem o mundo interno de nossos valores, muito embora, em uma leitura seja possível e provável que isso aconteça. Mas, a idéia aqui é mencionar a sutileza do ato da leitura, em sua estrutura mais ingênua. Falo então, apenas da transformação de pensamentos, quando o direcionamos para aquilo que lemos. Por exemplo, se estamos no ônibus e vemos um Outdoor, o lemos e pensamos a respeito do que estamos vendo, fazemos associações com outros fatos, ou pensamos na imagem que está impressa no imenso cartaz (não esquecendo que a imagem também é uma leitura). Bem, por alguns minutos pelo menos, transformamos. A inércia de nosso momento, foi invadida pelo cartaz gigante e naquele instante esta inércia se transformou em ação mental, colocamos nosso pensamento a trabalhar sobre aquilo que nossos olhos leram. Logo, o que descobrimos aqui é uma pseudo-inércia, pois o fato de estarmos fisicamente parados não quer dizer que não estejamos produzindo algo. Nossas mentes nunca param, estamos sempre envolvidos em ações mentais, construindo e desconstruindo idéias, ainda que não estejamos totalmente conscientes disso.

Assim, penso o quanto transformamo-nos também quando produzimos a escrita, que requer não só pensar sobre o que pensamos, mas sobretudo, pensar complexamente como transformar o que pensamos em palavras. Mas, não palavras simplesmente, jogadas em linhas e de forma despreocupada. Vamos mais a fundo nesta questão, pois sabemos que quando escrevemos temos um compromisso com o outro, tenhamos nós esta intenção ou não. E ouso dizer que “temos esta intenção”...de nos comprometer com a emoção do outro, temos a intenção de revelar, pois se assim não fosse, porque escreveríamos? Deixaríamos lá nossos pensamentos, encerrados em nossa Caixa de Pandora, ao contrário do que acontecera na Mitologia, sem o menor gesto que querer abri-la. Se registramos, de alguma forma estamos dando pistas de que queremos revelar algo...a si mesmo, quem sabe...ou a outra, ou a outras pessoas. O fato de criar e a preocupação com as palavras que escolhemos quer dizer: estive preocupado em fazer-me entender, por isto tive o cuidado de eleger tudo da melhor forma possível.

“Tudo o que fazemos e que se revela arte, na verdade, é um passo para dentro de nós. É um contato com a nossa essência e a necessidade de expressão. É ação de ascender, escalar nossos rochedos, amaciando o caminho com a sutileza da poesia que aos poucos vislumbra a luz do lado de fora. Estamos renascendo num momento único onde sentimentos e sentidos tomam forma e se esculpem naturalmente, oferecendo aquilo que temos de melhor.”

(PaTTi Cruz)

Na tirania das palavras e seu poder ilimitado, nunca sabemos o que se esconde por trás das letras. Não sabemos, antecipadamente, seu valor dentro das palavras. Quem saberá o que um A representa antes de vê-lo colocado em algum lugar. Um A, livre, leve e solto, é um A simplesmente. Mas, um A colocado em algum lugar, já se torna diferente, um A que quer ser e significar algo. Imaginem uma palavra onde ele, o A estaria, caso lá ele não estivesse. Será que esta palavra representaria sua função de revelar? Sim, as palavras são tiranas...ameaçam a nossa liberdade de entendê-las, se não dão espaço para que as letras a ocupem, nos enganam. Pobres letras...que se espremem, se comprimem para seu lugar ocupar e nos mostrar tudo aquilo que lemos...Portanto, imaginem...para escrever é preciso estar atento, neste momento a percepção é tudo e a sensibilidade sua melhor aliada. Produzir os sentimentos em palavras é cuidar das letras, uma a uma, para que elas se apropriem de seu espaço lentamente, com todo o valor necessário.


Um comentário:

Gisela Rosa disse...

Adorei seu texto. Mesmo muito. Obrigada por ter visitado meus espaços e se tornar seguidora. Um abraço