Texto criado para desenvolver atividade de Arteterapia com PIM (Esteio), cuja abordagem foi a Importância da Amamentação.
(Por PaTTi Cruz)
Era uma tarde sombria naquele inverno onde tudo parecia triste em Knot. Do lado de fora da tenda, somente ouvia-se o som estridente e forte dos ventos que arremessavam as folhas das árvores contra o ar e tudo mais que estivesse pela frente. Os animais pareciam estar recolhidos e amedrontados. Em um canto dos montes escutava-se o pio da coruja lânguido e quase sem forças para alcançar os ouvidos dos moradores da aldeia. Ninguém circulava do lado de fora, as fogueiras crepitavam o fogo, tentando aquecer um pouco aquele lugar inerte.
Havia outras aldeias próximas dali, mas diziam que Knot era conhecida por suas histórias e lendas onde nenhuma semente podia germinar durante o inverno, nenhuma fruta ou flor nascia, enquanto o frio permanecesse, nenhum peixe sobrevivia em seu lago e o povo da aldeia amargava a escassez de alimentos do corpo e da alma durante todo este período. As chuvas e tempestades ali em Knot eram sempre mais violentas, e contornar os momentos difíceis ficava cada vez mais doloroso.
Uma das lendas do lugar era sobre a história de Kaolói, uma adolescente que vivia na aldeia. Era órfã, sem um pai e sem uma mãe que pudessem contar sua história. Quando a menina fora encontrada, em meio aos arbustos próximos ao lago, parecia um animalzinho assustado. A velha feiticeira da aldeia a levou para sua tenda e cuidou da menina, contra a vontade dos moradores. Kaolói não falava, apenas emitia sons que somente eram compreendidos pela feiticeira, não brincava com as outras crianças e seus alimentos eram sempre os preparados que sua mãe adotiva fazia, com ervas e outros ingredientes. Assim, a indiazinha cresceu, sem conviver com outros membros da aldeia, sem rir ou chorar, sem palavras a dizer, sem nada que a identificasse como alguém pertencente aquele povoado. Antes da chegada de Kaolói na aldeia, a vida era tranqüila, e independente da estação do ano todos sempre tiveram alimento em abundância. Com o passar do tempo e conforme a menina crescia, os invernos passaram a ser mais rigorosos, trazendo fome aos moradores pela dificuldade de obterem os frutos e alimentos da terra e do lago que estavam habituados. A cada ano, maior era a miséria e mais forte era o frio que se apropriava do lugar, impedindo as pessoas de saírem de suas tendas em busca da sobrevivência mais simples. Quase sempre, passavam os meses que antecediam ao frio, arrecadando mantimentos para aquele período cruel. Todos atribuíam a órfã a tristeza e aridez do local, já que fora recolhida em um dia como todos os invernos passaram a se apresentar.
Certo dia, a menina órfã, percebe em seu ventre um volume que antes não existia, e via que a medida que o tempo passava o ventre dilatava mais e mais. A feiticeira não sabia explicar para o povo da aldeia o que acontecera, pois Kaolói quase não saía da tenda e nem mantinha contato com outras pessoas. Os moradores diziam que só poderia se tratar das feitiçarias que ela preparara para a orfã. Meses depois, em pleno furor do inverno, o ventre de Kaolói se rompe e dele vem à aldeia Tupiak, uma menina linda, clara como o leite e de olhos felizes que pareciam sorrir e aquecer a todos como o sol. O povo da aldeia estava surpreso com a beleza da menina e com o fato de ser tão diferente. No primeiro instante em que Kaolói teve a menina nos braços, um sol brilhante tomou conta do céu, aquecendo e aconchegando toda a aldeia, e ao aproximar Tupiak de seu seio para amamentá-la, flores começaram a brotar onde a terra era árida. Transformando o solo em um tapete esverdeado com as flores mais claras, mais brancas que alguém já teria visto, ornamentando toda região. Os habitantes da aldeia nada falavam, apenas olhavam tudo com admiração. Ao terminar de amamentar, Kaolói afasta suavemente Tupiak de seu seio, beija seu rosto e vê a menina transformar-se pouco a pouco em uma linda flor branca com seu miolo dourado. A linda flor junta-se a todas as demais que estão sobre o tapete verde no solo da aldeia. Desde então, nunca mais os invernos foram tristes e toda vez que uma mãe com filhos recém nascidos amamenta, nasce uma flor branca, com um sabor adocicado, que alimenta e traz tranqüilidade ao povo da aldeia e que todos chamam de Tupiak.
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