Talvez, um de nossos maiores pesadelos seja “acordar” e perceber que não estamos dormindo. Talvez seja olhar no espelho e ver alguém que não reconhecemos como nós mesmos, e sim, como um outro distante. Nosso olhar sobre o mundo e principalmente sobre nós mesmos devaneia-se pelos confins onde a estrada não atinge o limite do eu.
A grande frustração humana está no fato de que o dia em que descobrimos o caminho parece já ser tarde demais para tudo que já percorrermos. Talvez, esta seja uma visão cruel dos acontecimentos, mas a verdade se instaura, justamente, na crueldade daquilo que não vemos.
Há uma possibilidade, uma escolha. Não um único caminho, pois a vertentes são muitas, mas o foco é não perder o foco e descrer de todos que se negam a perceber. Parece que uma nuvem escura paira quando há um convite de mudança de planos, uma mudança na forma de observar e perceber as coisas. As relevâncias são poucas de que os fatos acontecerão de outra maneira se nós buscarmos as mudanças.
Sim, é verdade que não é algo sutil a ser feito, é necessário coragem, pois aí é que nos deparamos com aquele estranho do espelho que nos espreita, até sorrindo, sarcasticamente, como a Monalisa e que nos desafia a mudar o cenário que outrora parecia tão seguro. Seguro, é claro, pois estamos distante dos erros. Pensamos, equivocadamente, pois sem mudar, nos distanciamos apenas dos novos supostos erros, que são na verdade riscos. E para viver, é preciso correr riscos. Mudar! E é com a mudança que eles chegam. Notavelmente, nos achamos protegidos por já sabermos onde estamos, mas, sem se quer dar-mo-nos conta de que precisamos ir. Se permanecermos no mesmo contexto, no mesmo cenário, não quer dizer que estamos protegidos, quer dizer que não arriscamos e portanto, não vivemos.
Nosso mundo, nosso pequeno e padaroxalmente, imenso mundo interno reserva mistérios para que desvendemos. Sob o sol, percebemos que ao nosso lado há uma sombra, assim como da mesma forma, ainda que o sol ali não esteja, lá ela permanece, oculta de nossos olhos, mas, não oculta de nós. Quando Jung menciona: “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda”, talvez esteja querendo justamente instigar-nos ao atravessamento dos mundos, de nossos mundos. Nas fronteiras do desconhecido está uma vastidão de fortalezas a serem exploradas. E toda a segurança daquilo que já sabemos, sejam acertos ou erros, faz proliferar a insegurança de desbravar os territórios por nós ainda considerados inférteis.
Creio que acertar seja humano, diferente do que ouvimos ao longo de toda nossa existência. Pois nos provemos de virtudes que nos fortalecem através de nossas experiências para querer estar no caminho certo. E é justamente o desejo, o querer que nos move favoravelmente no sentido e fluxo da vida. Permanecer no erro, ou ainda permanecer nos campos, supostamente seguros, é não abrir uma possibilidade de conexão com o ser criativo que habita em cada um de nós. É não abrir a possibilidade para mergulhar no universo e sentir-se livre para expandir os horizontes de tudo que nos completa como seres de existência e impermanência. A criatividade de transformar o olhar, de ampliar a percepção é um aporte para o equilíbrio entre as partes e o todo que nos estrutura como indivíduos. É navegando no fluxo da vida em direção aos nossos universos que derrotaremos nossos medos, ou melhor, transformaremos nossos medos na substância alquímica que é capaz de nutrir nossa evolução.
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