Por PaTTi Cruz
Em
uma aldeia onde só havia a luz do dia viviam seres de extraordinária beleza.
Todos com muitas habilidades as quais se distribuíam nas tarefas do local para
que toda ordem e sobrevivência fosse mantida.
Cada
qual tinha um papel, uma função.
Havia
aqueles que dominavam todas as cores do universo através do olhar e conseguiam
trazê-las para ornamentar cada pedacinho da aldeia, colorindo da terra ao alto do
céu.
Havia
os que sabiam transformar os aromas em alimentos...Bastavam absorver do ar
diferentes perfumes da mata que envolvia
a aldeia e os pratos e refeições aprontavam-se em um instante.
Ah,
e havia os cantadores...estes filtravam em suas conchas de ouvir todos os sons
do lugar, os mais sutis dos sons eram possíveis de serem captados por estes
seres especiais. E, eis que novas canções embalavam a vida dali, que acontecia
sempre serena.
Havia
também a roda de fogo que aquecia as manhãs frias do lugar...as mulheres com
vestes apropriadas para o ritual, buscavam nos braços do sol a quentura
necessária para acender as fogueiras, tornando a aldeia muito aconchegante.
Assim,
a vida seguia tranquila por mil dias e claridades, sem que uma nuvem ou
qualquer traço de escuridão aparecesse para alterar aquela rotina.
Certa
tarde...em que as crianças descobriam a beleza de novas flores surgiu da terra,
a partir de uma pequena rachadura que ninguém notara, um pequeno arco
contornado por uma película. As crianças afastaram-se por receio do
desconhecido. Correram de volta ao centro da aldeia até que, brincando
esqueceram-se do episódio.
Aquele
dia era o que estava reservado para receber a chuva branca que energizava a
aldeia e, assim aconteceu. A chuva branca caiu mansa como de costume...
Mas,
aos poucos a aldeia começou a escurecer...um fenômeno jamais presenciado, visto
que na aldeia era dia sempre!
Os
habitantes ficaram assustados...ainda assim, foram investigar os fatos.
Encontraram, saído da rachadura, o grande arco que com a chuva tomara maior
forma e tamanho, encobrindo toda a extensão das terras do lugar. Sem
compreender porque isso acontecia a sua aldeia, ficaram tristes, não conseguiam
mais fazer suas tarefas, parecendo perder as habilidades, enfraquecendo com o
passar do tempo, toda vez que o contrário do dia surgia, depois de um
determinado tempo em que o dia corria.
E
passaram a crer que o fenômeno era a morte do fogo, já que o sol desaparecia por
completo dando lugar ao breu.
A
vida, seguia na aldeia, agora não tão feliz!
Em
um dos momentos em que o breu tomava conta do espaço, uma das aldeãs que esperava
por um filho, começou a sentir sua chegada. Chamaram logo a Senhora do Parto,
que com suas vestes destinadas ao ritual percorreu a brisa da escuridão.
Durante
o ritual de passagem da pequena vida de dentro do corpo da mãe para o mundo de
fora algo muito belo aconteceu. Mãe e filha iluminaram-se! Iluminaram-se tão
intensamente que a claridade esparramou-se por todas as curvas e entradas da
aldeia, uma luz tão forte que alcançou o espaço do céu!
O
trabalho foi árduo em dor e afeto... a aldeã então, desfaleceu de cansaço no
sonho. Ao acordar viu da porta o povo todo da aldeia que aguardava para vê-la e
agradecer.
A
chuva branca voltara a cair...e com ela o grande acontecimento. O arco da
escuridão espalhara infinitas gotas da luz gerada por mãe e filha,
resplandecendo uma nova claridade ao breu. Depois do espetáculo do nascimento e
do breu constelado pelo arco, abriu-se no céu o espaço para o retorno do sol. A
vida novamente amanhece!
A
aldeia feliz em conceber "Jassy-ara" Jaciara – que no idioma da aldeia significa
Tempo de luar
e, por receber a noite agraciada pelo breu e as gotas que iluminaram o
céu, reúne-se em festa. A festa dura o infinito das horas da luz do sol e
enquanto a chuva branca seguia caindo, o vento a levava para o final da curva
do arco que proporcionou ao céu inúmeros outros arcos coloridos que a aldeia
conheceu por arco-íris.
Assim,
sol e lua, dia e noite conseguiram compartilhar do mesmo espaço em tempos
diferentes para cada um fazer seu espetáculo. Os aldeões souberem que não havia
a morte do fogo, mas o seu descanso para que no alto do céu a lua e estrelas
pudessem também brilhar.
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