quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sobre o Desenho


Sobre o Desenho
O desenho é um suporte artístico ligado à produção de obras bidimensionais, diferindo, porém, da pintura e da gravura. Neste sentido, o desenho é encarado tanto como processo quanto como resultado artístico. No primeiro caso, refere-se ao processo pelo qual uma superfície é marcada aplicando-se sobre ela a pressão de uma ferramenta (em geral, um lápis, caneta ou pincel) e movendo-a, de forma a surgirem pontos, linhas e formas planas. O resultado deste processo (a imagem obtida), portanto, também pode ser chamada de desenho. Desta forma, um desenho manifesta-se essencialmente como uma composição bidimensional formada por linhas, pontos e formas.
Ficheiro:Da Vinci Vitruve Luc Viatour.jpg
Description: http://bits.wikimedia.org/skins-1.5/common/images/magnify-clip.png
A representação do homem vitruviano, como imaginado por Leonardo da Vinci, é um dos desenhos mais conhecidos do mundo.
O desenho envolve uma atitude do desenhista (o que poderia ser chamado de desígnio) em relação à realidade: o desenhista pode desejar imitar a sua realidade sensível, transformá-la ou criar uma nova realidade com as características próprias da bidimensionalidade ou, como no caso do desenho de perspectiva, a tridimensionalidade.

Desenho como projeto

O desenho nem sempre é um fim em si. O termo é muitas vezes usado para se referir ao projeto ou esboço para um outro fim. Nesse sentido o desenho pode significar a composição ou os elementos estruturais de uma obra. Mais corretamente, isso é denominado bosquejo, debuxo, esboço ou rascunho.
Na língua espanhola existe a distinção entre as palavras diseño (que se refere à disciplina conhecida como design nos países lusófonos, ou ao projeto, de uma forma geral) e dibujo (que se refere ao desenho propriamente dito). Estudos etimológicos de Luis Vidal Negreiros Gomes indicam que também no português existiam essas nuances de significado, no entanto as palavras foram mudando de sentido. Debuxo atualmente significa apenas esboço, bosquejo, ou desenho nos seus estágios iniciais[1][2]. A palavra desenho além do sentido de projeto, ganhou as significações de "qualquer desenho", "qualquer esboço", "desenho (debuxo) no seu estado final". Com o tempo debuxo deixou de significar "qualquer desenho" e significa apenas "esboço", "bosquejo", "rascunho". Desenho mudou de significado (projeto apenas), e englobou vários outros, mas preservou algumas dos sentidos de projeto. Atualmente a língua portuguesa incorporou a palavra design que comporta o sentido de desenho como projeto. A palavra "debuxo" também está sendo usada no sentido de "design" (uma inversão do sentido original).

Desenho, gravura, pintura

Entre os suportes artísticos tradicionais, três deles manifestam-se em duas dimensões: o próprio desenho, a gravura e a pintura. Embora o resultado formal de cada um deles seja bastante diferente (embora o desenho e a gravura sejam similares), a grande diferença entre eles se encontra na técnica envolvida.
A gravura difere do desenho na medida em que ela é produzida pensando-se na sua impressão e reprodução. Seus meios mais comuns de confecção são a xilogravura (em que a matriz é feita de madeira), a litogravura (cuja matriz é composta de algum tipo de pedra), a gravura propriamente dita (cuja matriz é metálica) e a Serigrafia (cuja matriz é uma tela) uma técnica de imprimir sobre tecido. Existe ainda uma técnica chamada monotipia, mais próxima da pintura, na qual se obtem apenas uma impressão.

Gesto

Ficheiro:William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Study of a Seated Veiled Female Figure (19th Century).png
Um desenho composto basicamente de linhas, com algumas texturas e sombreados
A composição pictórica expressa pelo desenho pode representar situações e realidades diversas: aquilo que o artista vê quando desenha, uma cena lembrada ou imaginada, uma realidade abstrata ou, no caso do desenho automático (proposto pelos surrealistas), pode vir a surgir com o movimento livre da mão do artista através do papel (ou de outra superfície). No processo da grafomania entóptica[carece de fontes?], em que os pontos são feitos nos locais das impurezas ou de variações de cor em uma folha de papel em branco, e as linhas são feitas então entre os pontos, superficialmente falando, o tema do desenho é o próprio papel.[carece de fontes?]
Estas várias atitudes do desenhista em relação ao resultado do desenho manifestam-se através da técnica escolhida por ele, evidenciada pelo seu gesto. O gesto está profundamente relacionado à natureza dos movimentos da mão humana e à forma como a visão (ou o raciocínio visual, de uma forma geral) os influencia. Algumas técnicas, quando de uma abordagem figurativista do desenho, incluem:

Linha pura

Este é um desenho composto predominantemente por linhas (as quais simplesmente delimitam os objetos desenhados, sem a intenção de explicitar seus sombreados ou texturas). É normalmente o primeiro tipo de desenho com o qual um estudante entra em contato - o que não significa que seja este um tipo de desenho de pouca complexidade. A linha pura também é utilizada como etapa inicial do desenho de uma perspectiva.

Tom de linha

Este é um tipo de desenho que pretende, além de delimitar os objetos, representar suas texturas, mas ainda não incorpora dégradés ou matizados, gerados pela gradação de tons de cinza (embora o peso das texturas aplicadas assumam efetivamente tal papel). Pelo seu caráter, é também uma técnica bastante utilizada na gravura.
O principal elemento deste tipo de desenho é o tracejado, trama ou textura, padrões gráficos que são usados para representar uma determinada textura, cuja manipulação e gradação de peso permite sombrear os objetos. A aplicação de valores tonais, organizados a partir de uma fonte de luz que indica zonas de luz e sombra, acentua a percepção de volume e tridimensionalidade dos objetos em uma composição, características que reforçam a ilusão de profundidade em um desenho. Os materiais mais comuns para o uso dessa técnica são os nanquins (bico-de-pena) e lápis de grafite mais rígido, em espessuras variadas.

Tom puro

Este tipo de desenho faz uso extenso das técnicas conhecidas como sfumato e chiaroscuro, de modo a construir formas, figuras e espaços através de relações de contraste entre luz e sombra e meios-tons, sendo assim uma representação composta por manchas e texturas suaves onde a linha praticamente desaparece entre vários degradês. Os materiais mais usados aqui são o grafite, o carvão e os pastéis. Instrumentos como o esfuminho auxiliam o espalhamento do grafite e a gradação de meios-tons e sombras. Materiais como nanquins e bicos de pena são inadequados para evidenciar os volumes, as sombras e as formas dos objetos, sendo mais apropriado o uso de aguadas em nanquim aplicadas em pincel, técnica que concilia tanto uma grande versatilidade expressiva como um refinado detalhamento tonal.

Material

Ficheiro:Pens Pencils.jpg
Diversos materiais para traçado
A escolha dos meios e materiais está intimamente relacionada à técnica escolhida para o desenho. Um mesmo objeto desenhado a bico de pena e a grafite produz resultados absolutamente diferentes.
As ferramentas de desenho mais comuns são o lápis, o carvão, os pastéis, crayons e pena e tinta. Muitos materiais de desenho são à base de água ou óleo e são aplicados secos, sem nenhuma preparação. Existem meios de desenho à base d'água (o "lápis-aquarela", por exemplo), que podem ser desenhados como os lápis normais, e então umedecidos com um pincel molhado para produzir vários efeitos. Há também pastéis oleosos e lápis de cera. Muito raramente, artistas utilizam tinta invisível (geralmente já revelada). A tinta invisível é uma substância que pode ser usada para escrever, que ou é invisível na aplicação ou desaparece rapidamente, e pode subseqüentemente ser restaurada por alguns meios. O uso da tinta invisível é uma forma de esteganografia, e foi usada em espionagem.
As formas mais simples de tinta invisível são suco de limão e leite. Para este tipo de 'tinta fixada por calor', qualquer líquido ácido funciona. Escreva no papel com uma pena, palito de dente ou um dedo mergulhado no líquido. Uma vez seco, o papel parece em branco. A escrita é feita para aparecer aquecendo o papel, num ferro de passar ou forno, por exemplo.
Outros tipos de tinta invisível incluem reações químicas diferentes, geralmente uma reação tipo ácido-base (como o papel de litmus) que é similar ao processo mimeográfico.

História

Ficheiro:Egypte louvre 105.jpg

Desenhos egípcios, guardados no Museu do Louvre.
O desenho tem sido um meio de manifestação estético e uma linguagem expressiva para o homem desde os tempos pré-históricos. Neste período, porém, o desenho, assim como a arte de uma forma geral, estava inserido em um contexto tribal-religioso em que acreditava-se que o resultado do processo de desenhar possuísse uma "alma" própria: o desenho era mais um ritual místico que um meio de expressão. À medida que os conceitos artísticos foram, lentamente, durante a Antiguidade separando-se da religião, o desenho passou a ganhar autonomia e a se tornar uma disciplina própria. Não haveria, porém, até o Renascimento, uma preocupação em empreender um estudo sistemático e rigoroso do desenho enquanto forma de conhecimento.
A partir do Século XV, paralelamente à popularização do papel, o desenho começou a tornar-se o elemento fundamental da criação artística, um instrumento básico para se chegar à obra final (sendo seu domínio quase uma virtude secundária frente às outras formas de arte). Com a descoberta e sistematização da perspectiva, o desenho virá a ser, de fato, uma forma de conhecimento e será tratado como tal por diversos artistas, entre os quais destaca-se Leonardo da Vinci.

Desenhistas historicamente importantes

  • Leonardo da Vinci - Mestre renascentista, usava o desenho como instrumento para compreender a realidade.
  • Albrecht Dürer - Mestre do desenho e gravura renascentista. Seu desenho teve especial importância no desenvolvimento da ilustração através da gravura.
  • Rembrandt - Mestre do desenho e gravura barroca, conhecido por seus estudo de claro-escuro.
  • Michelângelo Buonarroti - Mestre renascentista cujo desenho expressivo não segue necessariamente a harmonia do Renascimento.
  • Ingres - O grande mestre do desenho na França do século XIX.
  • M. C. Escher - Mestre do desenho e da gravura cujo trabalho é baseado em questões de percepção visual e do desenho na geometria.

Referências

  1. http://www.dicionarioinformal.com.br/buscar.php?palavra=debuxo

Referências bibliográficas

  • ARNHEIM, Rudolf; Arte e Percepção Visual; São Paulo: EDUSP, 1997.
  • CHAVES, Dario; JUBRAN, Alexandre; Manual prático de desenho; São Paulo: Editora Tipo, 2002; ISBN 8588516160.
  • DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo : Martins Fontes, 1997. ISBN 8533605838
  • EDWARDS, Betty; Desenhando com o lado direito do cérebro; São Paulo: Ediouro, 2001; ISBN 8500007486
  • FRUTIGER, Adrian. Sinais e Símbolos : Desenho, projeto e significado; São Paulo : Martins Fontes, 1999. ISBN 8533610998
  • KANDINSKY, Wassily; Ponto e linha sobre o plano; São Paulo: Martins Fontes, 2001; ISBN 8533605781
  • WONG, Wucius; Princípios de Forma e Desenho; São Paulo: Editora Martins Fontes, ISBN 8533608616

 


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