Configuração da Aula – Potencialidade dos Materiais
Iª PARTE: Serão trabalhados os recursos expressivos: lápis de cor,
giz de cera, giz pastel oleoso, giz pastel seco, carvão, tintas – aquarela,
guache, acrílica, óleo, papel e linhas.
IIªPARTE: Será destinado um espaço maior para a modelagem em Argila.
IIIª PARTE: Construindo Projeto, a partir da aula de Potencialidades
dos Materiais.
A apresentação e contato com os recursos expressivos estão
subdivididos em Categorias para melhor compreender o processo e sua utilização.
CATEGORIA A
Lápis de Cor, Giz
de cera, Carvão combinado com Pastel Seco, Giz pastel Oleoso combinado com
anilina
Intertexto 1 -
Com exceção da
anilina, elemento líquido[1], os
demais recursos expressivos desta categoria A, convocam a trabalhar com limites.
O movimento da mão, do punho sobre o instrumento a ser utilizado numa
superfície concentra em uma referência pré estabelecida pela mesma, até onde se
pode “ir”. Trabalhar com estes elementos
é aproximar-se do desenho, da configuração da forma com traços definidos e que
seguem um destino com fronteiras.
Estes 4 elementos:
lápis de cor, giz de cera, pastel seco/oleoso são de consistência rígida,
resistente e portanto, promovem uma sensação de controle, uns mais do que
outros.
As indicações podem
ser objetivadas de acordo com a demanda do participante, previamente observada
pelo arteterapeuta, que irá oferecer o recurso na medida em o sujeito necessite
exercitar a obtenção de controle em suas ações, ou pela necessidade de romper
com esta atitude por se manifestar de maneira intensa e prejudicial ao seu
desenvolvimento e relações intra e interpessoais.
O ideal é que no
avançar dos encontros e com a utilização dos recursos, possa se elaborar um
processo de equilíbrio, onde o controle possa coexistir com a necessidade de
flexibilizar, nos momentos em que este precise ser ponderado.
Estes materiais
expressivos, justamente, por se caracterizarem pela dureza e rigidez são
indicados no início de atividades criativas. Isto é, com grupos de pessoas que ainda
não tenham familiaridade com elementos de arte, pois oferece a sensação de
maior segurança no manuseio.
O Lápis de Cor oferece a possibilidade de se experimentar os tons e sua
suavidade e/ou intensidade a partir da pressão aplicada sobre o elemento expressivo
e, assim, descobrir que é de acordo com o nosso movimento que provocamos uma
cor mais forte ou mais clara, que damos intensidade ou sutileza, se
pressionamos em demasia ou se falta um “pulso” mais firme, ou ainda se é
preciso considerar que por vezes faz-se necessário relaxar.
A qualidade do
recurso expressivo deve ser observada, no intuito de não atingir negativamente
pessoas ansiosas ou que desistem facilmente de tarefas, por apresentarem
dificuldade de realização, por exemplo, com a quebra constante de pontas dos
lápis de cor.
O Giz de Cera segue na
linha das características do lápis de cor. Contudo, sugere mudança nas texturas
apresentadas. A cobertura não se dá totalmente sobre a superfície a ser trabalhada.
Ao fundo pode se perceber aberturas do mesmo (a cor branca da folha branca) e
oferecer certa espécie de ranhura no aspecto. É um excelente recurso a ser combinado
com outros elementos e pode ser utilizado sobre outras superfícies distintas da
folha de papel, como por exemplo, a cerâmica, a madeira, a massa de textura
aplicada em outros suportes como CD, mdf, etc.
O Giz Pastel Seco, por apresentar a característica de soltura de partículas pode
facilitar a criação de novas nuances. Indicado para pessoas que consideram ter
pouca criatividade. O fato de “manchar” os dedos pode ser um fator de
resistência ou incomodo na utilização. Convém oferecer um pano de limpeza, para
que o trabalho não danifique durante o percurso.
No Carvão, assim como no pastel seco, a soltura das partículas,
possibilita um movimento um pouco mais dinâmico, pois solicita uma escolha em
desprezar ou aproveitar as sobras dentro do gráfico, revitalizando assim novas
configurações ou deixando-as para um segundo momento. Com esta conotação,
podemos desenvolver questões como: o que é possível aproveitar e transformar
dentro de aspectos emocionais dando novos sentidos? Ou ainda – o que não
desejamos mais e que pode ser desprezado, por ter cumprido já sua função?
O Carvão, material bastante primitivo, utilizado desde a pré história,
tem as mesmas características do Pastel Seco, com a exceção de não ser
colorido. Contudo, o fato de poder alterar seus tons permite sombrear a obra e
experimentar diferentes efeitos. Aqui é possível desenvolver o exercício de luz
e sombra, aberturas para clarear nuances. A “falta” de cores não é um
impeditivo para que a criatividade se manifeste, isto promove a idéia de que é
possível criar em circunstâncias inusitadas.
O Pastel Oleoso nos faz contatar com a
característica de resistência, pois quando não combinado com um óleo facilitar
de deslize sobre a superfície, parece “travar”. Assim, em sua utilização poderá dificultar a ação
sobre o elemento e o movimento da obra. É possível “molhar” a ponta do giz em
óleo de linhaça (mesmo solvente indicado para a tinta a óleo), isso permite a
fluidez do movimento e mudar a textura para uma aparência mais aveludada,
tornando as cores mais atraentes. Após ter elaborado a obra, é viável utilizar
um cotonetes levemente umedecido no óleo de linhaça e permitir a fluidez da
cor.
Independente do
recurso expressivo, a idéia de planejamento aparece associada a relação que
estabelecemos com nosso fazer pela vida. Toda vez que planejamos trabalhar
sobre uma superfície, ainda que não se tenha em mente o que será feito sobre ela,
no momento que elegemos seu tamanho e aspecto (folha, tela, madeira, etc.), por
exemplo, as escolhas começam a se definir. Separar as tintas, prepará-las vai
movimentando nosso imaginário, que sutilmente vai elaborando e conectando corpo
e mente junto a obra a ser desenvolvida. Assim, começa o caminho do planejar.
CATEGORIA B –Expansividade
Tintas: Aquarela, Óleo, e Guache
Intertexto 2 -
Aquarela
A Aquarela em mim
(Por PaTTi
Cruz - Educadora, Esp.Arteterapia,
Consultora
de Desenvolv. Humano e Criatividade Docente
do Curso de Pós Graduação Lato Sensu de
Arteterapia - Centrarte/RS, Dir.Theia Criativa,
Contadora de História do Teatro de Arena)
Sentimento, universo das emoções
sendo movimentado pelas energias internas em contato com a água que limpa,
purifica e torna transparente. A aquarela tem uma consistência pastosa, por
isso precisa da água para fluir. Ao contato com a superfície vai manifestando
sua marca, translúcida, sem cobri-la totalmente, possibilitando ver o que está
abaixo de suas cores.
Nossas emoções, sentimentos,
sensações quando estão guardados, protegidos, por vezes presos “na garganta”
vão ao encontro da água que assegura-se de nosso mundo emocional, desperta em
um soluço e lágrimas nos vêm aos olhos de riso ou choro, rompendo as barreiras,
revelando o que sentimos. Neste momento estamos em nossa transparência de ser,
permitimos fluir as cores da nossa alma, assim como a aquarela que ocupa seu
espaço no papel.
Na Aquarela podemos intensificar os
tons, acrescentando um pouco mais da cor, sobrepondo-as se desejarmos, mas a
suavidade é sempre permanente. As cores
vão tomando formas e apresentando conteúdos, no processo de inspiração/intuição
nosso mundo se coloca pela ponta dos pincéis, as linhas se formam e dão
continuidade ao pensamento. A aquosa se espalha, desliza o traço, foge do ritmo
que imaginávamos, nos inquieta, aprendemos pouco a pouco que nem tudo se
permite controlar. Conectamo-nos com os sentimentos e descobrimos que nossa
rigidez precisa de trégua, precisa de ar, precisa respirar, precisa de água
para refrescar. Afastamos o pincel oxigenamos os seus fios, o mergulhamos na
água geradora de sua vida em cores. E se em algum momento percebermos que há
excesso, podemos aproximar um pequeno pedaço de esponja e absorver o que está
sobrando e as emoções irão se configurar na medida exata, reintegrando emoções
guardadas e exteriorizadas.
A superfície que espera pela
aquarela é semi áspera, com uma certa granulação para que a tinta se conecte ao
contato e interpenetre nos poros. Folhas com fios fibrosos que permitem a
aderência da cor e um efeito especial entre luz e sombra.
Em nossas defesas, por vezes, nos
colocamos amparados pela rudeza, enrugamos as feições do rosto, nossas
expressões, na intenção de protegermo-nos, nos apresentamos fibrosos, até mesmo
quem sabe, para poder receber melhor a emoção que se adere a nós. Esta
superfície é o que mostramos, mas olhar para dentro de nosso pequeno universo
nos faz perceber a profundidade. Deixar correr os sentimentos, elevar os pensamentos,
inundarmos de afeto nosso ser mais íntimo, permitir. Por uma vez apenas,
permitir aos sentimentos correrem, irem ao encontro do que somos e transparecer
a mais bela paisagem interna. Este efeito pode ser admirado, acolhido, aquecido
por cada um que souber olhar com sensibilidade.
Nas cores da aquarela tomando conta
de uma tela, pode-se observar este transcorrer de cores e encontro de tons. É
indicada para quem tem dificuldade de expressar suas emoções, para quem por
vezes é contido em seus sentimentos, que isola-se, reclusa afetos. Recomenda-se
o uso gradativo do movimento com aquarela, podendo iniciar-se com o uso do
lápis aquarelado, que umedecido em água vai projetando o efeito que a tinta,
posteriormente, proporcionará.
Quando houver interesse pelo
recurso:
Pessoas ansiosas e preocupadas com
o resultado “perfeito” devem ser muito bem monitoradas na utilização deste
recurso, para que compreenda seus efeitos e que em alguns momentos as “coisas”
se organizam por si e que no final das contas cada fato tinha uma razão de ser,
ordenando-se como na Teoria do Caos.
Pode-se promover na utilização da
aquarela, a oferta do papel seco, onde é possível acompanhar, ir adequando e
contornando o movimento da tinta. Assim, a sensação de descontrole, recebe um
grau de ação sobre o efeito da mesma esparramando-se sobre a folha e, onde
também a sensação de ansiedade pode ser acolhida de maneira menos
desconfortável.
Para pessoas muito conectadas com
universo emocional e com pouco acesso a razão, principalmente, na tomada de
decisões importantes, convém, da mesma forma, iniciar o processo de forma
gradativa e substancial. Indica-se antes trabalhar com elementos ar, fogo,
terra e água, para melhor compreensão de características importantes destes e
que estão associadas a aspectos e qualidades de muitos dos recursos expressivos.
Por exemplo, experimentar o elemento água, seria importante para logo a seguir
revelar a aquarela. É abrir acesso aos sentimentos profundos ligados a este
elemento que estão diretamente vinculados as emoções por demais contidas ou que
desaguam sem controle, assim como são os diferentes movimentos da água.
Trabalhar
com Aquarela instiga muitas nuances de pensamento, de reflexões sobre como nos
posicionamos diante do que acontece a nossa volta. Como reagimos a ação reativa
do mundo. Como é o universo de nossos sentimentos em relação a:
Transparência
de nossos sentimentos, o quanto somos ou o quanto gostaríamos de ser. A
suavidade, a calma e a tranquilidade com as quais enfrento situações ou que desejaria
enfrentar.
Na
superposição de cores, por exemplo, pode-se questionar sobre: o que estou
colocando, cobrindo/descobrindo, sufocando/transpirando. Como lidamos com os
sentimentos, deixamos fluir o que sentimos, nos fazemos ouvir, nos escutamos.
Este elemento
essencial – Água - É também relacionada ao universo feminino.
Óleo
A pastosidade
desta tinta permite fazer opções em sua diluição, que oferecerão as diferentes
texturas e aparências na obra pronta. Se a utilizarmos em sua consistência mais
pastosa as camadas ficarão mais densas e se a diluirmos, as camadas ganham mais
suavidade, mantendo a intensidade das cores. Não se trata de uma tinta
acessível em seu contato, requer experimentá-la quantas vezes forem necessárias
para que se ganhe intimidade com o movimento e seus efeitos.
Na pintura,
segundo Urrutigaray (2004) “a
possibilidade de emitir efeitos que possibilitam o atravessar da luz, produz
sensações de passar além, de galgar esferas, de ultrapassar limites, enfim de
ser possível alterar a ordem de colocar e ver novas situações por detrás da
figura conseguida.”
A secagem da tinta
a óleo se dá pelo processo de oxidação que pode ser alterado por vários
fatores: umidade, temperatura ambiente, ventilação, bem como a espessura da
pintura. Assim, esta tinta exige o tempo de espera para se considerar a obra
pronta que ocupará um lugar de destino para exposição. Dar tempo ao tempo de
secagem faz parte deste processo terapêutico, a intervenção antes do momento
adequado, poderá produzir danos à figura.
Por ter uma
qualidade de difícil alteração e, para aqueles que não desejam camadas mais
espessas em suas obras (normalmente feitas para alterar determinada
configuração), a utilização deste elemento expressivo requisita um planejamento
prévio daquilo que irá se configurar na superfície. Desta forma,
terapeuticamente, pode ser indicada para pessoas que desejam acrescentar a suas
características pessoais esta nova formatação. Planejar, desenvolver a idéia,
“descrevê-la” sobre a superfície, executar, torná-la parte de si.
Guache
Uma das tintas
mais populares e talvez, pouco valorizadas é normalmente nosso primeiro contato
com o universo da criação artística, oferecida, amplamente, nas escolas, por
ser de valor acessível. A tinta guache é uma tinta que possui semelhança a aquarela,
por se permitir aguar, dependendo da intenção de quem a está utilizando, com a
diferença de que sua coberta é garantida sobre a superfície. A Guache é uma mistura de
aglutinante (goma arábica) com pigmento branco, que resulta numa tinta opaca e
não translúcida como a aquarela. As cores claras podem ser colocadas por cima
das escuras, desde que respeitem algum tempo de secagem para que não haja uma mistura
que escureça demais o colorido.
Pode ser aplicada
em diferentes superfícies e em papel. Pelo fato de utilizar-se água para sua
diluição, requer o cuidado de não encharcar a folha para não rasgá-la,
comprometendo a obra. Assim, esta tinta tão conhecida, exige também que se estabeleça
um processo de reconhecimento de sua estrutura e características. É a tinta
dialogando conosco, de forma a nos comunicar que todo recurso expressivo, mesmo
os que parecem mais simples, precisam de uma relação de aproximação e contato,
até que tenhamos maior destreza em seu manuseio. Das tintas, justamente por ser
a mais popular, é indicada para dar início aos processos criativos de quem está
começando a frequentar espaços criativos, pois esta relação, normalmente
estabelecida nas classes escolares proporciona a sensação de maior segurança
nos movimentos.
Todo trabalho
realizado com tinta é uma proposta de maior expansão. Isto é, no
uso dos recursos da categoria A, por exemplo, os movimentos são mais
“contidos”, quase sempre de menor amplitude corporal, onde o punho segue nesta
ação de traçar e pintar, sem exigir maior comprometimento dos gestos. E pelo
fato de serem mais “secos” também não convocam a uma maior expressão corporal.
Já na categoria B,
a pastosidade, a aquosidade, permite uma ação de maior movimento, onde o corpo
é convocado a exercer um gesto mais amplo ao espalhar-se com as tintas sobre a
superfície para a qual se destinam.
CATEGORIA C
Intertexto 3 -
Tecidos e Linhas
No fio da vida é
preciso tramar, alinhavar, costurar, construir redes e ligações. Pensar na
linha da vida, na trajetória, reconstruir caminhos e passagens. Criamos teias
de relações durante nossa existência, desatamos nós, amarramos idéias e
histórias. Assim construímos cada momento nosso, em diferentes camadas. Cada
experiência um retalho, cada linha uma aliança. As linhas, de alguma forma
estão presentes em nossas vidas, ainda que seus fios sejam invisíveis, as tudo
e a todos estamos ligados, amarrados. Em alguns momentos, linhas enfraquecem,
balançam, se rompem. Mas, os fios que um dia seguramos estarão sempre presentes,
fazendo parte de nosso tecido vital.
Os primeiros
registros de tramas datam da era Neolítica. Neste período o homem já buscava na
relação com os fios naturais e galhos, produzir tramas que entrelaçavam lãs e
tecidos de pêlos e peles de animais, confeccionando para resguardar-se das
temperaturas intensas do frio ou calor, utilizando no próprio corpo ou na
cobertura de suas moradas.
Nas tessituras da
vida o homem recria suas redes e relações e cada vez que amarra, se enreda, une
gentilmente ou rompe os fios está propiciando reconstruir sua teia e seu
caminho. O tecido é elemento afetivo que nos acolhe e nos aquece, nos protege,
abriga. Trabalhar com fios e tecidos permite refletir sobre nossas camadas
vividas, as quais fazem parte da nossa grande colcha de retalhos. Somo patchworks
vivos, somos pedaços que formam um todo e a cada dia que vivemos temos como
opção acrescentar novas peles e retalhos, colorir com novas cores e fios ou
retirar o que não mais precisamos, dando espaço para novas costuras.
Nesta proposta
despertamos o sentido de ordenação, organização de um espaço, planejamento,
concentração para não emaranharmo-nos nas linhas. Trabalhamos criativamente
combinando cores, tamanhos e formas, juntamente com texturas que nos provocam
sensações diversas.
Indicado para
relembrar fases da vida, as relações, os afetos, as perdas e ganhos. Esta
tarefa requer acuidade viso-motora, portanto é preciso avaliar a realidade para
qual será oferecida. Trabalhar com pessoas idosas que tenham Mal de Parkinson,
por exemplo, indica-se a colagem dos tecidos e fios, no lugar de oferecer
agulhas.
“ O mundo aparece
assim, como um complicado tecido de eventos , no qual diferentes tipos se
alternam, se sobrepõe ou se combinam e, por meio disso, determinam a textura do
todo”. (Heisemberg apud Medina, 1998)
CATEGORIA D
Intertexto 4 -
ARGILA
“A Argila é um material primitivo, porque está unificado com a terra.
Desde a origem do mundo a argila acompanha a evolução do homem, fazendo parte
da evolução das culturas. Na modelagem com o barro devemos saber que este
material suscita emoções e conteúdos arcaicos, atua a nível visceral,
mobilizando vivências muito primitivas (ARAÚJO, 2003).”
“A partir da estrutura oculta do
barro o homem vem se descobrindo quando pelo calor de suas mãos faz da terra
molhada a confidente de imagens carregadas de emoções vividas e por viver. No
barro o homem cria e é criado (GOUVEIA,1989).“
Segundo a Antroposofia a argila vai
atuar no corpo físico, no nível dos órgãos internos,
ativando inicialmente as glândulas
endócrinas, que vão agir nos órgãos, atuando no metabolismo. Atua a nível
visceral, mobilizando vivências muito remotas.
Segundo Jung, nas camadas mais
profundas da psique a linguagem é mítica e, nas produções plásticas feitas com
argila, emergem figuras mitológicas e arquetípicas.
Assim, trabalhar
com o barro, especificamente, é poder provocar os sentidos, e alimentar a
percepção de si mesmo neste espaço que é seu
de vida. Do barro nasce o contato com as sutilezas ocultas, com as lembranças
adormecidas, com os sentimentos e pensamentos muitas vezes aprisionados.
Despertando uma outra forma de pensar sobre o homem em uma definição mais
libertadora de sentidos.
Oferecer
o barro a um grupo ou individualmente a pessoas em processo inicial de
propostas arteterapêuticas não é indicado. É preciso conhecer muito bem
a natureza do grupo e cada um de seus integrantes, bem como do participante
individual de atendimentos, conhecer um pouco de sua história e realidade
atual. Para movimentar elementos internos através do barro é preciso estar
preparado para dar suporte e segurança para o que vier à tona.
É
importante iniciar com movimentos e feituras pequenas de modelagem, como a que
se utiliza com crianças e as massinhas de modelar. Fazer bolinhas, cobrinhas,
amassar e bater o barro para adquirir intimidade e descobrir sobre sua
maleabilidade, trocando energia e calor que possibilitam modelar. Este é um bom
começo para esta relação.
O barro
auxilia a pessoas ansiosas o aprendizado da natureza e seu ritmo para que as
coisas aconteçam. Aguardar que o barro seque para levá-lo à queima, para depois
somente tratá-lo com esmalte é respeitar a ação e reação dos sentidos do barro
e contatar com os elementos da natureza que estão presentes neste processo: terra,
ar, água e fogo.
“Serenamente as peças vão surgindo por
entre os dedos, com o calor das mãos, transbordando da alma, do coração, os
afetos transfiguram-se em massa. Materializam-se, são colocados à luz de nossos
olhos para que possamos apalpar nossas emoções, nossos sentimentos, segurá-los,
acariciá-los, recebê-los como presenças em nossas vidas. Como seres
recém-nascidos que necessitam de cuidado e, serem nutridos profundamente.
Com a mesma simplicidade que este
barro se transforma, nos transformamos com ele e nos modelamos em novos seres a
cada movimento, pois vamos acordando para nosso interior e (re) mexendo aos
poucos em nossos conteúdos alquímicos que processam-se em características
manifestas de quem somos.”
[1] Todo elemento líquido (mais aquoso) promove a sensação da falta de controle sobre
o que está se configurando. Assim, tanto pode ser útil para trabalhar quem
necessite rever suas resistências e ações controladoras, como podem permitir a
quem tem a dificuldade de manter-se mais centrado em suas ações e escolhas,
pela impulsividade de movimento, levando o sujeito a planejar antes de executar
uma tarefa, para que a mesma não se perca do contexto.
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