quinta-feira, 25 de abril de 2013

Configuração da Aula


Configuração da Aula – Potencialidade dos Materiais
Iª PARTE: Serão trabalhados os recursos expressivos: lápis de cor, giz de cera, giz pastel oleoso, giz pastel seco, carvão, tintas – aquarela, guache, acrílica, óleo, papel e linhas.
IIªPARTE: Será destinado um espaço maior para a modelagem em Argila.
IIIª PARTE: Construindo Projeto, a partir da aula de Potencialidades dos Materiais.

A apresentação e contato com os recursos expressivos estão subdivididos em Categorias para melhor compreender o processo e sua utilização.

CATEGORIA A
Lápis de Cor, Giz de cera, Carvão combinado com Pastel Seco, Giz pastel Oleoso combinado com anilina
Intertexto 1 -
Com exceção da anilina, elemento líquido[1], os demais recursos expressivos desta categoria A, convocam a trabalhar com limites. O movimento da mão, do punho sobre o instrumento a ser utilizado numa superfície concentra em uma referência pré estabelecida pela mesma, até onde se pode “ir”.  Trabalhar com estes elementos é aproximar-se do desenho, da configuração da forma com traços definidos e que seguem um destino com fronteiras.
Estes 4 elementos: lápis de cor, giz de cera, pastel seco/oleoso são de consistência rígida, resistente e portanto, promovem uma sensação de controle, uns mais do que outros.
As indicações podem ser objetivadas de acordo com a demanda do participante, previamente observada pelo arteterapeuta, que irá oferecer o recurso na medida em o sujeito necessite exercitar a obtenção de controle em suas ações, ou pela necessidade de romper com esta atitude por se manifestar de maneira intensa e prejudicial ao seu desenvolvimento e relações intra e interpessoais.
O ideal é que no avançar dos encontros e com a utilização dos recursos, possa se elaborar um processo de equilíbrio, onde o controle possa coexistir com a necessidade de flexibilizar, nos momentos em que este precise ser ponderado.
Estes materiais expressivos, justamente, por se caracterizarem pela dureza e rigidez são indicados no início de atividades criativas. Isto é, com grupos de pessoas que ainda não tenham familiaridade com elementos de arte, pois oferece a sensação de maior segurança no manuseio.
O Lápis de Cor oferece a possibilidade de se experimentar os tons e sua suavidade e/ou intensidade a partir da pressão aplicada sobre o elemento expressivo e, assim, descobrir que é de acordo com o nosso movimento que provocamos uma cor mais forte ou mais clara, que damos intensidade ou sutileza, se pressionamos em demasia ou se falta um “pulso” mais firme, ou ainda se é preciso considerar que por vezes faz-se necessário relaxar.
A qualidade do recurso expressivo deve ser observada, no intuito de não atingir negativamente pessoas ansiosas ou que desistem facilmente de tarefas, por apresentarem dificuldade de realização, por exemplo, com a quebra constante de pontas dos lápis de cor.
O Giz de Cera segue na linha das características do lápis de cor. Contudo, sugere mudança nas texturas apresentadas. A cobertura não se dá totalmente sobre a superfície a ser trabalhada. Ao fundo pode se perceber aberturas do mesmo (a cor branca da folha branca) e oferecer certa espécie de ranhura no aspecto. É um excelente recurso a ser combinado com outros elementos e pode ser utilizado sobre outras superfícies distintas da folha de papel, como por exemplo, a cerâmica, a madeira, a massa de textura aplicada em outros suportes como CD, mdf, etc.
O Giz Pastel Seco, por apresentar a característica de soltura de partículas pode facilitar a criação de novas nuances. Indicado para pessoas que consideram ter pouca criatividade. O fato de “manchar” os dedos pode ser um fator de resistência ou incomodo na utilização. Convém oferecer um pano de limpeza, para que o trabalho não danifique durante o percurso.
No Carvão, assim como no pastel seco, a soltura das partículas, possibilita um movimento um pouco mais dinâmico, pois solicita uma escolha em desprezar ou aproveitar as sobras dentro do gráfico, revitalizando assim novas configurações ou deixando-as para um segundo momento. Com esta conotação, podemos desenvolver questões como: o que é possível aproveitar e transformar dentro de aspectos emocionais dando novos sentidos? Ou ainda – o que não desejamos mais e que pode ser desprezado, por ter cumprido já sua função?
O Carvão, material bastante primitivo, utilizado desde a pré história, tem as mesmas características do Pastel Seco, com a exceção de não ser colorido. Contudo, o fato de poder alterar seus tons permite sombrear a obra e experimentar diferentes efeitos. Aqui é possível desenvolver o exercício de luz e sombra, aberturas para clarear nuances. A “falta” de cores não é um impeditivo para que a criatividade se manifeste, isto promove a idéia de que é possível criar em circunstâncias inusitadas.
O Pastel Oleoso  nos faz contatar com a característica de resistência, pois quando não combinado com um óleo facilitar de deslize sobre a superfície, parece “travar”. Assim,  em sua utilização poderá dificultar a ação sobre o elemento e o movimento da obra. É possível “molhar” a ponta do giz em óleo de linhaça (mesmo solvente indicado para a tinta a óleo), isso permite a fluidez do movimento e mudar a textura para uma aparência mais aveludada, tornando as cores mais atraentes. Após ter elaborado a obra, é viável utilizar um cotonetes levemente umedecido no óleo de linhaça e permitir a fluidez da cor.
Independente do recurso expressivo, a idéia de planejamento aparece associada a relação que estabelecemos com nosso fazer pela vida. Toda vez que planejamos trabalhar sobre uma superfície, ainda que não se tenha em mente o que será feito sobre ela, no momento que elegemos seu tamanho e aspecto (folha, tela, madeira, etc.), por exemplo, as escolhas começam a se definir. Separar as tintas, prepará-las vai movimentando nosso imaginário, que sutilmente vai elaborando e conectando corpo e mente junto a obra a ser desenvolvida. Assim, começa o caminho do planejar.













CATEGORIA B –Expansividade
Tintas: Aquarela, Óleo, e Guache
Intertexto 2 -
Aquarela
A Aquarela em mim
(Por PaTTi Cruz - Educadora,  Esp.Arteterapia,
Consultora de Desenvolv. Humano e Criatividade Docente
 do Curso de Pós Graduação Lato Sensu de Arteterapia - Centrarte/RS, Dir.Theia Criativa,
 Contadora de História do Teatro de Arena)

Sentimento, universo das emoções sendo movimentado pelas energias internas em contato com a água que limpa, purifica e torna transparente. A aquarela tem uma consistência pastosa, por isso precisa da água para fluir. Ao contato com a superfície vai manifestando sua marca, translúcida, sem cobri-la totalmente, possibilitando ver o que está abaixo de suas cores.
Nossas emoções, sentimentos, sensações quando estão guardados, protegidos, por vezes presos “na garganta” vão ao encontro da água que assegura-se de nosso mundo emocional, desperta em um soluço e lágrimas nos vêm aos olhos de riso ou choro, rompendo as barreiras, revelando o que sentimos. Neste momento estamos em nossa transparência de ser, permitimos fluir as cores da nossa alma, assim como a aquarela que ocupa seu espaço no papel.
Na Aquarela podemos intensificar os tons, acrescentando um pouco mais da cor, sobrepondo-as se desejarmos, mas a suavidade é sempre permanente.  As cores vão tomando formas e apresentando conteúdos, no processo de inspiração/intuição nosso mundo se coloca pela ponta dos pincéis, as linhas se formam e dão continuidade ao pensamento. A aquosa se espalha, desliza o traço, foge do ritmo que imaginávamos, nos inquieta, aprendemos pouco a pouco que nem tudo se permite controlar. Conectamo-nos com os sentimentos e descobrimos que nossa rigidez precisa de trégua, precisa de ar, precisa respirar, precisa de água para refrescar. Afastamos o pincel oxigenamos os seus fios, o mergulhamos na água geradora de sua vida em cores. E se em algum momento percebermos que há excesso, podemos aproximar um pequeno pedaço de esponja e absorver o que está sobrando e as emoções irão se configurar na medida exata, reintegrando emoções guardadas e exteriorizadas.
A superfície que espera pela aquarela é semi áspera, com uma certa granulação para que a tinta se conecte ao contato e interpenetre nos poros. Folhas com fios fibrosos que permitem a aderência da cor e um efeito especial entre luz e sombra.
Em nossas defesas, por vezes, nos colocamos amparados pela rudeza, enrugamos as feições do rosto, nossas expressões, na intenção de protegermo-nos, nos apresentamos fibrosos, até mesmo quem sabe, para poder receber melhor a emoção que se adere a nós. Esta superfície é o que mostramos, mas olhar para dentro de nosso pequeno universo nos faz perceber a profundidade. Deixar correr os sentimentos, elevar os pensamentos, inundarmos de afeto nosso ser mais íntimo, permitir. Por uma vez apenas, permitir aos sentimentos correrem, irem ao encontro do que somos e transparecer a mais bela paisagem interna. Este efeito pode ser admirado, acolhido, aquecido por cada um que souber olhar com sensibilidade.

Nas cores da aquarela tomando conta de uma tela, pode-se observar este transcorrer de cores e encontro de tons. É indicada para quem tem dificuldade de expressar suas emoções, para quem por vezes é contido em seus sentimentos, que isola-se, reclusa afetos. Recomenda-se o uso gradativo do movimento com aquarela, podendo iniciar-se com o uso do lápis aquarelado, que umedecido em água vai projetando o efeito que a tinta, posteriormente, proporcionará.
Quando houver interesse pelo recurso:
Pessoas ansiosas e preocupadas com o resultado “perfeito” devem ser muito bem monitoradas na utilização deste recurso, para que compreenda seus efeitos e que em alguns momentos as “coisas” se organizam por si e que no final das contas cada fato tinha uma razão de ser, ordenando-se como na Teoria do Caos.
Pode-se promover na utilização da aquarela, a oferta do papel seco, onde é possível acompanhar, ir adequando e contornando o movimento da tinta. Assim, a sensação de descontrole, recebe um grau de ação sobre o efeito da mesma esparramando-se sobre a folha e, onde também a sensação de ansiedade pode ser acolhida de maneira menos desconfortável.
Para pessoas muito conectadas com universo emocional e com pouco acesso a razão, principalmente, na tomada de decisões importantes, convém, da mesma forma, iniciar o processo de forma gradativa e substancial. Indica-se antes trabalhar com elementos ar, fogo, terra e água, para melhor compreensão de características importantes destes e que estão associadas a aspectos e qualidades de muitos dos recursos expressivos. Por exemplo, experimentar o elemento água, seria importante para logo a seguir revelar a aquarela. É abrir acesso aos sentimentos profundos ligados a este elemento que estão diretamente vinculados as emoções por demais contidas ou que desaguam sem controle, assim como são os diferentes movimentos da água.
Trabalhar com Aquarela instiga muitas nuances de pensamento, de reflexões sobre como nos posicionamos diante do que acontece a nossa volta. Como reagimos a ação reativa do mundo. Como é o universo de nossos sentimentos em relação a:
Transparência de nossos sentimentos, o quanto somos ou o quanto gostaríamos de ser. A suavidade, a calma e a tranquilidade com as quais enfrento situações ou que desejaria enfrentar.
Na superposição de cores, por exemplo, pode-se questionar sobre: o que estou colocando, cobrindo/descobrindo, sufocando/transpirando. Como lidamos com os sentimentos, deixamos fluir o que sentimos, nos fazemos ouvir, nos escutamos.
Este elemento essencial – Água - É também relacionada ao universo feminino.

Óleo
A pastosidade desta tinta permite fazer opções em sua diluição, que oferecerão as diferentes texturas e aparências na obra pronta. Se a utilizarmos em sua consistência mais pastosa as camadas ficarão mais densas e se a diluirmos, as camadas ganham mais suavidade, mantendo a intensidade das cores. Não se trata de uma tinta acessível em seu contato, requer experimentá-la quantas vezes forem necessárias para que se ganhe intimidade com o movimento e seus efeitos.
Na pintura, segundo Urrutigaray (2004) “a possibilidade de emitir efeitos que possibilitam o atravessar da luz, produz sensações de passar além, de galgar esferas, de ultrapassar limites, enfim de ser possível alterar a ordem de colocar e ver novas situações por detrás da figura conseguida.”
A secagem da tinta a óleo se dá pelo processo de oxidação que pode ser alterado por vários fatores: umidade, temperatura ambiente, ventilação, bem como a espessura da pintura. Assim, esta tinta exige o tempo de espera para se considerar a obra pronta que ocupará um lugar de destino para exposição. Dar tempo ao tempo de secagem faz parte deste processo terapêutico, a intervenção antes do momento adequado, poderá produzir danos à figura.
Por ter uma qualidade de difícil alteração e, para aqueles que não desejam camadas mais espessas em suas obras (normalmente feitas para alterar determinada configuração), a utilização deste elemento expressivo requisita um planejamento prévio daquilo que irá se configurar na superfície. Desta forma, terapeuticamente, pode ser indicada para pessoas que desejam acrescentar a suas características pessoais esta nova formatação. Planejar, desenvolver a idéia, “descrevê-la” sobre a superfície, executar, torná-la parte de si.


Guache
Uma das tintas mais populares e talvez, pouco valorizadas é normalmente nosso primeiro contato com o universo da criação artística, oferecida, amplamente, nas escolas, por ser de valor acessível. A tinta guache é uma tinta que possui semelhança a aquarela, por se permitir aguar, dependendo da intenção de quem a está utilizando, com a diferença de que sua coberta é garantida sobre a superfície. A Guache  é uma mistura de aglutinante (goma arábica) com pigmento branco, que resulta numa tinta opaca e não translúcida como a aquarela. As cores claras podem ser colocadas por cima das escuras, desde que respeitem algum tempo de secagem para que não haja uma mistura que escureça demais o colorido.
Pode ser aplicada em diferentes superfícies e em papel. Pelo fato de utilizar-se água para sua diluição, requer o cuidado de não encharcar a folha para não rasgá-la, comprometendo a obra. Assim, esta tinta tão conhecida, exige também que se estabeleça um processo de reconhecimento de sua estrutura e características. É a tinta dialogando conosco, de forma a nos comunicar que todo recurso expressivo, mesmo os que parecem mais simples, precisam de uma relação de aproximação e contato, até que tenhamos maior destreza em seu manuseio. Das tintas, justamente por ser a mais popular, é indicada para dar início aos processos criativos de quem está começando a frequentar espaços criativos, pois esta relação, normalmente estabelecida nas classes escolares proporciona a sensação de maior segurança nos movimentos.

Todo trabalho realizado com tinta é uma proposta de maior expansão. Isto é, no uso dos recursos da categoria A, por exemplo, os movimentos são mais “contidos”, quase sempre de menor amplitude corporal, onde o punho segue nesta ação de traçar e pintar, sem exigir maior comprometimento dos gestos. E pelo fato de serem mais “secos” também não convocam a uma maior expressão corporal.
Já na categoria B, a pastosidade, a aquosidade, permite uma ação de maior movimento, onde o corpo é convocado a exercer um gesto mais amplo ao espalhar-se com as tintas sobre a superfície para a qual se destinam.
















CATEGORIA C
Intertexto 3 -
Tecidos e Linhas
No fio da vida é preciso tramar, alinhavar, costurar, construir redes e ligações. Pensar na linha da vida, na trajetória, reconstruir caminhos e passagens. Criamos teias de relações durante nossa existência, desatamos nós, amarramos idéias e histórias. Assim construímos cada momento nosso, em diferentes camadas. Cada experiência um retalho, cada linha uma aliança. As linhas, de alguma forma estão presentes em nossas vidas, ainda que seus fios sejam invisíveis, as tudo e a todos estamos ligados, amarrados. Em alguns momentos, linhas enfraquecem, balançam, se rompem. Mas, os fios que um dia seguramos estarão sempre presentes, fazendo parte de nosso tecido vital.
Os primeiros registros de tramas datam da era Neolítica. Neste período o homem já buscava na relação com os fios naturais e galhos, produzir tramas que entrelaçavam lãs e tecidos de pêlos e peles de animais, confeccionando para resguardar-se das temperaturas intensas do frio ou calor, utilizando no próprio corpo ou na cobertura de suas moradas.
Nas tessituras da vida o homem recria suas redes e relações e cada vez que amarra, se enreda, une gentilmente ou rompe os fios está propiciando reconstruir sua teia e seu caminho. O tecido é elemento afetivo que nos acolhe e nos aquece, nos protege, abriga. Trabalhar com fios e tecidos permite refletir sobre nossas camadas vividas, as quais fazem parte da nossa grande colcha de retalhos. Somo patchworks vivos, somos pedaços que formam um todo e a cada dia que vivemos temos como opção acrescentar novas peles e retalhos, colorir com novas cores e fios ou retirar o que não mais precisamos, dando espaço para novas costuras.
Nesta proposta despertamos o sentido de ordenação, organização de um espaço, planejamento, concentração para não emaranharmo-nos nas linhas. Trabalhamos criativamente combinando cores, tamanhos e formas, juntamente com texturas que nos provocam sensações diversas.
Indicado para relembrar fases da vida, as relações, os afetos, as perdas e ganhos. Esta tarefa requer acuidade viso-motora, portanto é preciso avaliar a realidade para qual será oferecida. Trabalhar com pessoas idosas que tenham Mal de Parkinson, por exemplo, indica-se a colagem dos tecidos e fios, no lugar de oferecer agulhas.
“ O mundo aparece assim, como um complicado tecido de eventos , no qual diferentes tipos se alternam, se sobrepõe ou se combinam e, por meio disso, determinam a textura do todo”. (Heisemberg apud Medina, 1998)
CATEGORIA D
Intertexto 4 -
ARGILA
“A Argila é um material primitivo, porque está unificado com a terra. Desde a origem do mundo a argila acompanha a evolução do homem, fazendo parte da evolução das culturas. Na modelagem com o barro devemos saber que este material suscita emoções e conteúdos arcaicos, atua a nível visceral, mobilizando vivências muito primitivas (ARAÚJO, 2003).”

“A partir da estrutura oculta do barro o homem vem se descobrindo quando pelo calor de suas mãos faz da terra molhada a confidente de imagens carregadas de emoções vividas e por viver. No barro o homem cria e é criado (GOUVEIA,1989).“

Segundo a Antroposofia a argila vai atuar no corpo físico, no nível dos órgãos internos,
ativando inicialmente as glândulas endócrinas, que vão agir nos órgãos, atuando no metabolismo. Atua a nível visceral, mobilizando vivências muito remotas.
Segundo Jung, nas camadas mais profundas da psique a linguagem é mítica e, nas produções plásticas feitas com argila, emergem figuras mitológicas e arquetípicas.
Assim, trabalhar com o barro, especificamente, é poder provocar os sentidos, e alimentar a percepção de si mesmo neste espaço que é seu de vida. Do barro nasce o contato com as sutilezas ocultas, com as lembranças adormecidas, com os sentimentos e pensamentos muitas vezes aprisionados. Despertando uma outra forma de pensar sobre o homem em uma definição mais libertadora de sentidos.
Oferecer o barro a um grupo ou individualmente a pessoas em processo inicial de propostas arteterapêuticas não é indicado. É preciso conhecer muito bem a natureza do grupo e cada um de seus integrantes, bem como do participante individual de atendimentos, conhecer um pouco de sua história e realidade atual. Para movimentar elementos internos através do barro é preciso estar preparado para dar suporte e segurança para o que vier à tona.
É importante iniciar com movimentos e feituras pequenas de modelagem, como a que se utiliza com crianças e as massinhas de modelar. Fazer bolinhas, cobrinhas, amassar e bater o barro para adquirir intimidade e descobrir sobre sua maleabilidade, trocando energia e calor que possibilitam modelar. Este é um bom começo para esta relação.
O barro auxilia a pessoas ansiosas o aprendizado da natureza e seu ritmo para que as coisas aconteçam. Aguardar que o barro seque para levá-lo à queima, para depois somente tratá-lo com esmalte é respeitar a ação e reação dos sentidos do barro e contatar com os elementos da natureza que estão presentes neste processo: terra, ar, água e fogo.
“Serenamente as peças vão surgindo por entre os dedos, com o calor das mãos, transbordando da alma, do coração, os afetos transfiguram-se em massa. Materializam-se, são colocados à luz de nossos olhos para que possamos apalpar nossas emoções, nossos sentimentos, segurá-los, acariciá-los, recebê-los como presenças em nossas vidas. Como seres recém-nascidos que necessitam de cuidado e, serem nutridos profundamente.
Com a mesma simplicidade que este barro se transforma, nos transformamos com ele e nos modelamos em novos seres a cada movimento, pois vamos acordando para nosso interior e (re) mexendo aos poucos em nossos conteúdos alquímicos que processam-se em características manifestas de quem somos.”






[1] Todo elemento líquido (mais aquoso)  promove a sensação da falta de controle sobre o que está se configurando. Assim, tanto pode ser útil para trabalhar quem necessite rever suas resistências e ações controladoras, como podem permitir a quem tem a dificuldade de manter-se mais centrado em suas ações e escolhas, pela impulsividade de movimento, levando o sujeito a planejar antes de executar uma tarefa, para que a mesma não se perca do contexto.

Nenhum comentário: