Reflexões a partir do texto:
"MUNDO E
CORPO" sujeito e objeto de Maurice Merleau-Ponty
Por PaTTi Cruz - Pedagoga Especial,
Esp.Arteterapia,
Consultora de Desenvolvimento
Humano e Criatividade
Docente do Curso de Pós Graduação Lato Sensu
de Arteterapia - Centrarte/RS, Coord. Theia Criativa – Espaço de
Desenvolv.Pessoal e Processos Criativos , Contadora de Histórias
Quando minha mão
direita toca a esquerda, sinto-a como uma coisa física, mas no mesmo instante,
se eu quiser, um acontecimento extraordinário se produz: eis que minha mão
esquerda também se põe a sentir a mão direita. Nele (meu corpo) e por ele não
há somente um relacionamento em sentido único daquele que sente com aquilo que
ele sente: ocorre uma reviravolta na relação, a mão tocada torna-se tocante,
obrigando-me a dizer que o tato está espalhado por todo o corpo, que o corpo é
‘coisa sensitiva’, sujeito e objeto. A mão direita é sujeito? A esquerda é
objeto? Ou ambas sujeito e objeto? Parece que tais questões deixam de ter
importância quando nos preocupamos com a experiência sensível ou com a busca do
ser bruto. A experiência tátil, o tocar e o ser tocado, bem como a experiência
visível, ver e ser visto, emergem de um mesmo tipo de ser. O corpo pertence às
duas ordens do sujeito e do objeto ao mesmo tempo. Tal relação pode ser
transposta para a relação corpo e mundo. O corpo também pertence à ordem das
coisas assim como as coisas também pertencem à ordem do corpo. É também no
plano do sensível que estará a possibilidade de percepção do outro. O outro
habita um mesmo campo sensível, embora não habite a mesma consciência. Mas a
experiência sensível é uma espécie de entendimento anterior à qualquer clivagem
sujeito-objeto ou consciência-mundo.
Mundo e corpo são simultaneamente sujeito e objeto. (M.Ponty)
Mundo e corpo são simultaneamente sujeito e objeto. (M.Ponty)
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Maurice
Merleau-Ponty escritor e filósofo líder do pensamento fenomenológico na França,
nasceu em 14 de março de 1908, em Rochefort, e faleceu em 4 de maio de 1961, em
Paris. Estudou na Ecóle Normale Supérieure em Paris, graduando-se em filosofia
em 1931.
Abordar as questões do corpo como sujeito é mexer com a história
da humanidade e, portanto, com a nossa. É resgatar no passado mais remoto o
transitar do homem pelo universo, sua evolução como corpo matéria em movimento
e como corpo de sentidos em sua postura diante do mundo. É promover o pensar
sobre a transparente manifestação de emoções e a percepção do corpo como
significante de seus significados. É desafiar a pensar sobre os tabus do corpo
e tudo o que reserva em suas entranhas partes e que não comunica, muitas vezes,
nem a si mesmo.
O corpo, ainda que confiram-lhe a importância devida de cuidados
físicos, não atingiu o clérigo dos sentidos, que é a pré-ocupação emocional
deste recôncavo no meio social no qual habita. O ser é sujeito em sua
totalidade, em sua forma de pensar, agir, sonhar, calar. O ser é sujeito no
mundo na medida em que está colocado no mesmo em sua ampla capacidade de
existência e manifestação, expressando suas dores, amores, cóleras e
sofrimentos, ansiedade e alegrias, súplicas e reatividades.
A verbalização é um dos sentidos que damos a nossas sensações,
onde comunicamos racionalmente. Mas, e quando não sabemos nominar o sentido das
mesmas? Quando não encontramos um caminho de linguagem compreensível para o
outro sobre nossos sentimentos? Calamos...encerramos em algum lugar tudo que não
conseguimos tocar e tornar concreto e sonoro. Desta forma o corpo que é a casa
dos sentidos e sensações expressa em sua postura aquilo que guarda. A sua
expressividade e marcas físicas apresentam ao mundo o que a boca não expressa
em palavras. Esta casa, com o tempo, vai rompendo seus alicerces, pois o peso
de sua estrutura que foi comportando as camadas, sobrepondo-as, não suporta
mais sustentar. É perdido o equilíbrio e a força de amparo descerra e denuncia
o sofrimento.
O corpo que habita o mundo é o mesmo corpo que é habitado por
nosso mundo interno. Extravasar a emoção, representando-a de alguma forma,
concretamente em palavras ou aplicada ao simbólico é dar espaço vivo para o
encontro entre os corpos físico e emocional. É dar condições equilibradas para
a manifestação do que nos faz bem ou do que nos importuna. É permitir que
coexistam o ser e o sentir, no mesmo corpo que é mundo dentro e mundo fora,
onde somos tocados por nós mesmos sujeitos em relação com o outro, mas
principalmente numa primeira relação em contato consigo mesmo.
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