sábado, 1 de junho de 2013

Reflexões a partir do texto: "MUNDO E CORPO" sujeito e objeto de Maurice Merleau-Ponty

Reflexões a partir do texto:
"MUNDO E CORPO" sujeito e objeto de Maurice Merleau-Ponty

 Por PaTTi Cruz - Pedagoga Especial, Esp.Arteterapia,
Consultora de Desenvolvimento Humano e Criatividade
 Docente do Curso de Pós Graduação Lato Sensu de Arteterapia - Centrarte/RS, Coord. Theia Criativa – Espaço de Desenvolv.Pessoal e Processos Criativos , Contadora de Histórias

Quando minha mão direita toca a esquerda, sinto-a como uma coisa física, mas no mesmo instante, se eu quiser, um acontecimento extraordinário se produz: eis que minha mão esquerda também se põe a sentir a mão direita. Nele (meu corpo) e por ele não há somente um relacionamento em sentido único daquele que sente com aquilo que ele sente: ocorre uma reviravolta na relação, a mão tocada torna-se tocante, obrigando-me a dizer que o tato está espalhado por todo o corpo, que o corpo é ‘coisa sensitiva’, sujeito e objeto. A mão direita é sujeito? A esquerda é objeto? Ou ambas sujeito e objeto? Parece que tais questões deixam de ter importância quando nos preocupamos com a experiência sensível ou com a busca do ser bruto. A experiência tátil, o tocar e o ser tocado, bem como a experiência visível, ver e ser visto, emergem de um mesmo tipo de ser. O corpo pertence às duas ordens do sujeito e do objeto ao mesmo tempo. Tal relação pode ser transposta para a relação corpo e mundo. O corpo também pertence à ordem das coisas assim como as coisas também pertencem à ordem do corpo. É também no plano do sensível que estará a possibilidade de percepção do outro. O outro habita um mesmo campo sensível, embora não habite a mesma consciência. Mas a experiência sensível é uma espécie de entendimento anterior à qualquer clivagem sujeito-objeto ou consciência-mundo.
Mundo e corpo são simultaneamente sujeito e objeto. (M.Ponty)
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Maurice Merleau-Ponty escritor e filósofo líder do pensamento fenomenológico na França, nasceu em 14 de março de 1908, em Rochefort, e faleceu em 4 de maio de 1961, em Paris. Estudou na Ecóle Normale Supérieure em Paris, graduando-se em filosofia em 1931.

Abordar as questões do corpo como sujeito é mexer com a história da humanidade e, portanto, com a nossa. É resgatar no passado mais remoto o transitar do homem pelo universo, sua evolução como corpo matéria em movimento e como corpo de sentidos em sua postura diante do mundo. É promover o pensar sobre a transparente manifestação de emoções e a percepção do corpo como significante de seus significados. É desafiar a pensar sobre os tabus do corpo e tudo o que reserva em suas entranhas partes e que não comunica, muitas vezes, nem a si mesmo.
O corpo, ainda que confiram-lhe a importância devida de cuidados físicos, não atingiu o clérigo dos sentidos, que é a pré-ocupação emocional deste recôncavo no meio social no qual habita. O ser é sujeito em sua totalidade, em sua forma de pensar, agir, sonhar, calar. O ser é sujeito no mundo na medida em que está colocado no mesmo em sua ampla capacidade de existência e manifestação, expressando suas dores, amores, cóleras e sofrimentos, ansiedade e alegrias, súplicas e reatividades.
A verbalização é um dos sentidos que damos a nossas sensações, onde comunicamos racionalmente. Mas, e quando não sabemos nominar o sentido das mesmas? Quando não encontramos um caminho de linguagem compreensível para o outro sobre nossos sentimentos? Calamos...encerramos em algum lugar tudo que não conseguimos tocar e tornar concreto e sonoro. Desta forma o corpo que é a casa dos sentidos e sensações expressa em sua postura aquilo que guarda. A sua expressividade e marcas físicas apresentam ao mundo o que a boca não expressa em palavras. Esta casa, com o tempo, vai rompendo seus alicerces, pois o peso de sua estrutura que foi comportando as camadas, sobrepondo-as, não suporta mais sustentar. É perdido o equilíbrio e a força de amparo descerra e denuncia o sofrimento.

O corpo que habita o mundo é o mesmo corpo que é habitado por nosso mundo interno. Extravasar a emoção, representando-a de alguma forma, concretamente em palavras ou aplicada ao simbólico é dar espaço vivo para o encontro entre os corpos físico e emocional. É dar condições equilibradas para a manifestação do que nos faz bem ou do que nos importuna. É permitir que coexistam o ser e o sentir, no mesmo corpo que é mundo dentro e mundo fora, onde somos tocados por nós mesmos sujeitos em relação com o outro, mas principalmente numa primeira relação em contato consigo mesmo.

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