(Por PaTTi Cruz)
Rafael era alto para a idade, tinha cabelos avermelhados, olhos castanhos, seu rosto pintado de sardas. Lá do alto de seus 7 anos achava-se muito corajoso.
Muito corajoso não, era o mais corajoso dos meninos de sua idade. Nada o amedrontava ou o fazia tremer. Sua vizinha, por exemplo, tinha um cachorro gigantesco, que mais parecia um búfalo. Rafael, cheio de valentia passava bem encostadinho na grade da casa fazendo gracinhas e piruetas, coisa que deixava Brutus irritadíssimo. O pobre cão latia tanto que todo o quarteirão reclamava.
Rafael estava na 2ª série e na escola não havia quem não o conhecesse, era um menino muito falante e simpático. As meninas de sua turma ficavam sempre encantadas com suas histórias de aventuras. Já os meninos, muito enciumados, diziam que as meninas estavam sendo iludidas, pois devia haver pelo menos uma única coisa da qual Rafael sentisse medo.
Em uma tarde alguns colegas resolveram reunir-se na casa de um dos meninos da turma de Rafael para jogar botão e convidaram-no também. Como era de costume, Rafael avisou sua mãe para onde ia e ela recomendou-lhe: - Vê se não demora muito, pois agora escurece mais cedo e não quero você à noite na rua.
Jogaram a tarde toda sem que se dessem conta da hora. Quando olharam pela janela a lua já iluminava a noite. Os meninos apavoraram-se, menos o destemido Rafael!
- Vou lá telefonar para o meu pai. Disse um deles.
- E eu, para minha mãe. Disse outro.
- Ora, deixem de bobagem! Falou Rafael. É tão perto que podemos ir caminhando. Ou vão me dizer que estão com medo do escuro?!
E lá se foi Rafael, sozinho pela rua, pois ninguém quis ir com ele.
Ao dobrar a esquina, Rafael percebeu que a lua estava cheia e iluminava o seu caminho, acompanhando-o a cada passo.
De repente, viu um vulto bem próximo dele. Seu coração começou a bater mais forte, suas mãos começaram a suar frio. Ele não sabia se seguia em frente ou ficava parado. E o vulto continuava ali junto dele.
Rafael resolveu então andar depressa, dobrou à direita para tentar despistar o vulto e parou atrás de uma coluna de concreto, mas nada escutou. Por certo, quem o seguia também havia parado...Bem, talvez tivesse conseguido distrair o “dono do vulto”. Decidiu então continuar. Logo percebeu que estava sendo seguido novamente.
Mas, o que alguém poderia querer com um menino de sete anos? Foi quando Rafael teve uma idéia e gritou sem virar-se:
- Ei amigo, não fique me seguindo, diga logo o que deseja.
Não obteve resposta. Decidiu então correr para casa. Ao chegar na porta de entrada, colocou a mão na maçaneta para abri-la e viu que o vulto repetia seu gesto. Percebeu também, neste momento, que o vulto tinha mais ou menos a sua altura. Resolveu então testá-lo e coçou a cabeça, o vulto também o fez.
Rafael, já menos impressionado, virou-se e viu que estava sozinho, não havia ninguém na rua além dele mesmo. Ou melhor, sozinho não. Tinha certeza que pelo menos em noite de lua cheia estaria sempre acompanhado, pois o vulto tratava-se de sua própria sombra.
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