(Profª PaTTi Cruz -
Pedagoga Especial, Esp.Arteterapia,
Consultora de Desenvolvimento
Humano e Criatividade
Docente do Curso
de Pós Graduação Lato Sensu de Arteterapia - Centrarte/RS,
Contadora de
Histórias, Espec.LIBRAS )
Embora não
nos faltem indagações, embora algumas respostas apareçam, a pergunta é sempre o
que nos direciona o caminho. Estamos sempre insatisfeitos, por isso estamos
aqui, na busca de mais; de mais saber, de mais acreditar, de mais existir, de
mais transformar e transformar-se. É esta busca, esta incessante busca, esta
sensação de garganta seca, suplicando pelo conhecimento derramado que nos move.
A pergunta é só o pretexto para não parar de existir.
De acordo
com Fayga Ostrower, o homem comanda a partir das suas referências seu processo
de transformação e a construção de seu caminho. Este processo ocorre ininterruptamente,
durante sua trajetória de existência e as implicações de suas ações sobre o
contexto em que vive e mais amplamente, sobre o universo, darão o tom e ritmo a
caminhada. Fayga Ostrower, nos diz que toda a atividade humana está inserida em
uma realidade social, cujas carências e cujos recursos materiais e espirituais
constituem o contexto de vida do indivíduo. São esses aspectos, transformados
em valores culturais, que o solicitam e motivam-no a agir. Nas palavras de
Fayga criar é, basicamente formar, isto é, poder dar uma forma a algo novo.
Fayga traz ainda a idéia de que as formas de percepção sobre as coisas, o mundo
e a construção e, a percepção sobre as relações não se estabelecem ao acaso, há
sempre um nexo, um sentido. E o homem é o centro focal que estabelece as
relações entre os fenômenos que acontecem a sua volta, ligando-os entre si e
vinculando-os a si mesmo. É possível acreditar que estas relações são feitas a
partir das sensações e sentimentos atribuídos aos fatos e acontecimentos de
acordo com as expectativas, desejos, medos e, sobretudo de acordo com a maneira
que ordenamos todos estes sentimentos e as atribuições de valores em relação a
eles. É nesta busca de ordenar e de significar, como menciona Fayga, que
está colocada a intensa motivação do homem de criar. Ordenando,
configurando, relacionando e significando os fenômenos, atribuindo e valorando
o sentido das ordenações e formas, o homem comunica-se com seus pares e com o
meio. Nestas ações despertam-se as possibilidades, suas potencialidades, que
segundo Fayga se convertem em necessidades existenciais.
A
percepção de si mesmo dentro desta ação é, de acordo com Fayga, um aspecto
relevante que distingue a criatividade humana, impelida por novas necessidades,
numa constância de movimentos, o potencial criador do homem surge na história
como fator de realização e permanente transformação.
Em um
processo de gestação de nós mesmos, vamos traçando nossos caminhos no útero do
universo, numa ânsia de fazer eclodir nossos sentimentos em formas e cores, em
pleno contato com as sutilezas que nos habitam. A partir desta manifestação
caleidoscópica podemos dar forma a uma comunicação que se estabelece com o
outro, muitas vezes reflexo de nós mesmos. Assim, dando forma o homem
transforma, vai se configurando, configurando sua história e deixando sua
marca, ele se descobre sujeito que cria e se recria neste universo a partir de
si mesmo, a partir dos vínculos com seus semelhantes, que podem ser sujeitos
também de singularidades e diferenças. Nesta diversidade de similitudes e
complementaridades, convoca-se o homem a projetar seu ideal de mundo. Contudo,
o homem só transforma o que está fora, ao seu redor, quando necessariamente
transforma, primeiro aquilo que está dentro de si. Seu olhar e percepção não
têm alcance adiante, quando antes não estiver voltado em sua própria direção,
em uma busca de ajuste, de equilíbrio de si mesmo neste espaço de relação:
homem-universo-homem. É quase, como se infinitamente, o homem tivesse que
lapidar o equilíbrio todos os pardos ou coloridos dias na constante caminhada
de seu destino à transformação.
No
movimento do universo, na roda da vida que gira, dinamicamente no espaço da
existência humana, na qual estamos agarrados, o que nos sustenta é esta leveza
de sentir a poesia do mundo, nos seus diferentes contextos. A poesia que nos
fala sobre as adversidades e bem-aventuranças, a poesia que nos canta e
encanta, a poesia que nos alimenta. E embalados por esta poesia o
universo dança dentro de nós. Nosso ritmo interno se projeta nas linhas da
partitura da melodia do mundo e este som tem o tom que damos a ele, a partir do
que pensamos, do que somos e do que desejamos, a partir do que acreditamos e
sonhamos é que se nasce para tudo que existe a nossa volta. Na poética dos
movimentos, das palavras, projetamos sentimentos e na regência desta orquestra
de cordas que tramam a roda da vida, neste ato que não é apenas pura e simples
contemplação, mas a ação equilibrada de tudo que nos compõem é que adquirimos
nossa identidade de ser.
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