sábado, 1 de junho de 2013

HOMEM – CORPO: FORÇA DE EXPRESSÃO

Texto 4

HOMEM – CORPO: FORÇA DE EXPRESSÃO
(Texto elaborado por PaTTi Cruz)


“ Só o espírito soprando sobre a argila pode criar o homem”.
 (Trecho do livro: Terra dos Homens)

Tendo como idéias principais a relação do sujeito com o mundo e como este constrói sua auto-imagem e a estrutura de corporeidade, manifestada por sua história de vida, pensa-se a partir daí no corpo em movimento neste espaço, permeado pelo sentir.
Os movimentos expressivos do corpo identificam a necessidade natural que o ser humano tem de expressar seus sentimentos e pensamentos de forma sistematizada ou não, evidenciando o espírito artístico ou simplesmente como forma de prazer.
Podemos expressar sentimentos sem pronunciar uma palavra, através apenas de simples movimentos de expressão corporal. Na dança, na ginástica, nas artes marciais, enfim, de diversas maneiras, usamos o nosso corpo para manifestar, expandir nossas emoções, comunicando-nos em diferentes formas de linguagem.
As manifestações da sentimentalidade humana derivam das construções perceptivas do ser em relação a sua existência e a forma como se apropria destas experiências e o rumo que dá a aprendizagem feita sobre elas. A concretude de seus atos pode ser direcionada em sentidos que se ocupem de dotar a mente de boas passagens, baseadas na assimilação dos fatos como caminhos de sua trajetória e que o constituem como ser. Ou em sentidos que se ocupem de declarar uma guerrilha interna com batalhas diante da vida e dos fatos que se apresentam como brutalmente desafiadores e com a característica destrutiva de tudo aquilo que poderia constituí-lo como homem participante do mundo. A cada um caberá definir qual a melhor forma de elaborar suas vivências, como manifestá-las e como construir aprendizagens a partir das suas ações.
Entrelaçadas as culturas, o homem constrói seu caminho, pela linha do tempo modelando e revelando a si mesmo, sua história e essência. Dos primórdios da existência humana o homem representava suas experiências ressaltando suas necessidades primitivas, destacando-as como manifestações artísticas de maneira que perpetuassem no tempo suas marcas e imagens. Na fase pré-histórica, por exemplo, representavam mais enfaticamente as figuras de animais e o corpo feminino. Na figura feminina mostram mulheres de grandes seios, ventre avantajado e nádegas enormes.
Alguns arqueólogos denominaram as estatuetas femininas de vênus, acreditando que elas correspondiam a um ideal de beleza do homem pré-histórico.
Outros acreditavam que o artista talvez quisesse apenas ressaltar as características da  fertilidade feminina: por isso acentuava-lhes os volumes.




Em outro período da história, na Grécia antiga, o homem enfatizava entre outros aspectos, a estética física nas suas obras. Aparecem, simultaneamente, o ideal de perfeição, o equilíbrio, a harmonia, o ritmo exato.



                                                                       Discóbulo

Estas formas de perceber o mundo e a si mesmo no decorrer da história, traz consigo a necessidade intrínseca ao ser humano que é a de manifestar seus desejos e tudo aquilo que seu interior secreta. O homem sempre esteve representado nas diferentes formas de expressão artística, mas na modelagem escultórica a possibilidade de contatar com a vida na sua essência, a terra, o barro, a pedra (constituída de pedaços e grãos de terra que percorreram o tempo), o sentido de dar à luz a si mesmo através da obra tomou uma dimensão única. Estar na obra e senti-la brotar, nascer das suas mãos que orientam o sentido do fazer é poder revelar-se em uma linguagem potente, porque é vida e energia dispersa no mundo.
Trabalhar com o barro, especificamente, é poder provocar os sentidos, e alimentar a percepção de si mesmo neste espaço que é seu de vida. Do barro nasce o contato com as sutilezas ocultas, com as lembranças adormecidas, com os sentimentos e pensamentos muitas vezes aprisionados. Há assim, uma outra forma de pensar sobre o homem em uma definição mais libertadora de sentidos.
Como lembra Edgar Morin, no prólogo do livro, Amor, Poesia, Sabedoria:
“A idéia que se possa definir homo, dando-lhe a qualidade de sapiens, isto é, de um ser razoável e sábio, é uma idéia pouco razoável e pouco sábia. Homo é também demens : manifesta uma afectividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; traz em si uma fonte permanente de delírio; crê na virtude de sacrifícios sangrentos; dá corpo, existência, poder a mitos e deuses da sua imaginação. Há no ser humano um salão permanente de Hubris, a desmesura dos Gregos.
A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas sem as desordens da afectividade e as irrupções do imaginário, sem a loucura do impossível, não existiria entusiasmo, criação, invenção, amor, poesia. Do mesmo modo, o ser humano é um animal não só insuficiente em razão, mas também dotado de sem-razão.
Todavia, temos necessidade de controlar homo demens para exercer um pensamento racional, argumentado, crítico, complexo. Temos necessidade de inibir, em nós, o que demens tem de mortífero, mesquinho, imbecil. Temos necessidade de sabedoria, que nos pede prudência, temperança, cortesia, desprendimento.”
É nesta miscigenação de sentimentos e sensações que as nossas vivências se ocupam de nos oferecer entre uma escolha e outra de caminhos e direções, nosso envolvimento com a afetividade-loucura, a calmaria-alucinada da necessidade de sair, de retirar de nós aquilo que não queremos e preencher os espaços com os desejos reavitazados. Vamos estabelecendo uma relação conosco e nosso ser mais íntimo, nos relacionamos com o mundo envolvendo nele nosso corpo que não é só físico, matéria, mas um corpo que está posto na ecologia do universo, pleno de consciência e existência, no domínio do conhecer-se “ a si mesmo”, na complexidade do simbolismo que trafega para o real. Nas infinitas nuances da preparação do barro para a modelagem, a nossa modelagem, somos obra em fragmentos e somos também obra em coesão na sua totalidade de ser obra, e na totalidade de ser inteiro, não na unicidade da forma, mas na unidade corpo-mente.
Nesta trajetória de construções a Arte Esculpida é a representação do homem no mundo. Seu modelo de vida e relações, onde o maior significado é Ser no mundo e Pertencer ao mundo. A idealização de seus desejos e conquistas apresentam-se na forma concentrada de sua caminhada sobre a terra, através da terra. Própria terra que o gerou e o mantém vivo na força da natureza, na força de sua crença na vida e em si mesmo.


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