Texto 4
HOMEM – CORPO: FORÇA DE
EXPRESSÃO
(Texto elaborado por PaTTi
Cruz)
“ Só o espírito soprando sobre a argila pode
criar o homem”.
(Trecho do livro: Terra dos Homens)
Tendo como idéias
principais a relação do sujeito com o mundo e como este constrói sua
auto-imagem e a estrutura de corporeidade, manifestada por sua história de
vida, pensa-se a partir daí no corpo em movimento neste espaço, permeado pelo sentir.
Os movimentos expressivos do corpo
identificam a necessidade natural que o ser humano tem de expressar seus
sentimentos e pensamentos de forma sistematizada ou não, evidenciando o espírito
artístico ou simplesmente como forma de prazer.
Podemos expressar sentimentos sem
pronunciar uma palavra, através apenas de simples movimentos de expressão
corporal. Na dança, na ginástica, nas artes marciais, enfim, de diversas
maneiras, usamos o nosso corpo para manifestar, expandir nossas emoções,
comunicando-nos em diferentes formas de linguagem.
As manifestações da sentimentalidade
humana derivam das construções perceptivas do ser em relação a sua existência e
a forma como se apropria destas experiências e o rumo que dá a aprendizagem
feita sobre elas. A concretude de seus atos pode ser direcionada em sentidos
que se ocupem de dotar a mente de boas passagens, baseadas na assimilação dos
fatos como caminhos de sua trajetória e que o constituem como ser. Ou em
sentidos que se ocupem de declarar uma guerrilha interna com batalhas diante da
vida e dos fatos que se apresentam como brutalmente desafiadores e com a
característica destrutiva de tudo aquilo que poderia constituí-lo como homem
participante do mundo. A cada um caberá definir qual a melhor forma de elaborar
suas vivências, como manifestá-las e como construir aprendizagens a partir das
suas ações.
Alguns arqueólogos denominaram
as estatuetas femininas de vênus, acreditando que elas correspondiam a um ideal
de beleza do homem pré-histórico.
Outros acreditavam que o artista talvez quisesse apenas
ressaltar as características da
fertilidade feminina: por isso acentuava-lhes os volumes.
Em outro período da história, na Grécia antiga, o homem enfatizava entre outros aspectos, a estética física nas suas obras. Aparecem, simultaneamente, o ideal de perfeição, o equilíbrio, a harmonia, o ritmo exato.
Discóbulo
Estas formas de perceber o mundo e a
si mesmo no decorrer da história, traz consigo a necessidade intrínseca ao ser
humano que é a de manifestar seus desejos e tudo aquilo que seu interior
secreta. O homem sempre esteve representado nas diferentes formas de expressão
artística, mas na modelagem escultórica a possibilidade de contatar com a vida
na sua essência, a terra, o barro, a pedra (constituída de pedaços e grãos de
terra que percorreram o tempo), o sentido de dar à luz a si mesmo através da obra
tomou uma dimensão única. Estar na obra e senti-la brotar, nascer das suas mãos
que orientam o sentido do fazer é poder revelar-se em uma linguagem potente,
porque é vida e energia dispersa no mundo.
Trabalhar com o barro,
especificamente, é poder provocar os sentidos, e alimentar a percepção de si
mesmo neste espaço que é seu de vida.
Do barro nasce o contato com as sutilezas ocultas, com as lembranças
adormecidas, com os sentimentos e pensamentos muitas vezes aprisionados. Há
assim, uma outra forma de pensar sobre o homem em uma definição mais
libertadora de sentidos.
Como lembra Edgar Morin, no prólogo do
livro, Amor, Poesia, Sabedoria:
“A idéia que se possa definir homo, dando-lhe a qualidade de sapiens, isto é, de um ser razoável e
sábio, é uma idéia pouco razoável e pouco sábia. Homo é também demens
: manifesta uma afectividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos,
mudanças brutais de humor; traz em si uma fonte permanente de delírio; crê na
virtude de sacrifícios sangrentos; dá corpo, existência, poder a mitos e deuses
da sua imaginação. Há no ser humano um salão permanente de Hubris, a desmesura dos Gregos.
A loucura humana é fonte de ódio,
crueldade, barbárie, cegueira. Mas sem as desordens da afectividade e as
irrupções do imaginário, sem a loucura do impossível, não existiria entusiasmo,
criação, invenção, amor, poesia. Do mesmo modo, o ser humano é um animal não só
insuficiente em razão, mas também dotado de sem-razão.
Todavia, temos necessidade de controlar homo demens para exercer um
pensamento racional, argumentado, crítico, complexo. Temos necessidade de
inibir, em nós, o que demens
tem de mortífero, mesquinho, imbecil. Temos necessidade de sabedoria, que nos
pede prudência, temperança, cortesia, desprendimento.”
É nesta miscigenação de sentimentos e
sensações que as nossas vivências se ocupam de nos oferecer entre uma escolha e
outra de caminhos e direções, nosso envolvimento com a afetividade-loucura, a
calmaria-alucinada da necessidade de sair, de retirar de nós aquilo que não
queremos e preencher os espaços com os desejos reavitazados. Vamos
estabelecendo uma relação conosco e nosso ser
mais íntimo, nos relacionamos com o mundo envolvendo nele nosso corpo que
não é só físico, matéria, mas um corpo que está posto na ecologia do universo,
pleno de consciência e existência, no domínio do conhecer-se “ a si mesmo”, na complexidade do
simbolismo que trafega para o real. Nas infinitas nuances da preparação do
barro para a modelagem, a nossa modelagem,
somos obra em fragmentos e somos também obra em coesão na sua totalidade de ser obra, e na totalidade de ser inteiro, não na unicidade da forma,
mas na unidade corpo-mente.
Nesta trajetória de construções a Arte
Esculpida é a representação do homem no mundo. Seu modelo de vida e relações,
onde o maior significado é Ser no
mundo e Pertencer ao mundo. A
idealização de seus desejos e conquistas apresentam-se na forma concentrada de
sua caminhada sobre a terra, através da terra. Própria terra que o gerou e o
mantém vivo na força da natureza, na força de sua crença na vida e em si mesmo.
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Acessado em 12.06.2007.
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